quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O Dia em que eu quase fiquei cego

Eu estava tomando banho. Eu gostava de tomar banhos longos, quentes e musicais. Para tal eu levava meu rádio para o banheiro e colocava ele em cima do cesto de roupa suja. Metia o rock no útimo volume e brincava de guitarrinha imaginária em baixo d água. Era comum eu só terminar o banho quando sentia um forte cheiro de queimado vindo do chuveiro. A temperatura no fio ficava muito quente e ele começava a derreter, soltando um fedor horrível, que me obrigava a terminar o banho. Num daqueles dias, eu estava tomando um banho super quente enquanto ouvia Eagles tocando Hotel California. Foi quando uma explosão aconteceu. Foi um estouro alto no chuveiro, e eu instintivamente olhei pra cima. Foi olhar e sentir uma coisa quente, como se fosse uma agulha em brasa entrar no meu olho. Eu dei um pulo. Aquela merda queimando, queimando…Me desesperei. Para piorar, estava tudo escuro. Estava escuro porque eu sempre gostei de tomar banho em completa escuridão. Mas mesmo que tivesse luz, não iria fazer diferença nenhuma, já que eu estava com o olho fechado, apertando com a mão. Gritando um monte de palavrões. Eu corri molhado pelo banheiro. Quase caí. Peguei a toalha tateando. È uma merda sentir dor. A gente não faz nada direito. Peguei a toalha e me enrolei como pude. Tateei pela parede até achar a porta e consegui sair do mundo escuro, fumacento e com cheiro de queimado. A primeira pessoa que me viu gritando todo molhado e com a toalha a me cobrir mal e porcamente as partes baixas foi a Edna. A Edna era aquela empregada meio maluquinha que tinha disritimia e dormia na cama da minha mãe sempre que a gente saía de casa. A Edna ficou desesperada e não sabia o que fazer. Era hora do almoço e ela estava fazendo a comida. Quando me ouviu gritar largou tudo no fogo e foi ver. E aí ao invés de ajudar, ela só correu de um lado para o outro perguntando o que havia acontecido com meu olho. E eu só gritava em desespero. Ficava aquela merda queimando e eu tinha certeza que estava cego. Por sorte a minha mãe chegou em casa bem naquela hora. Ela se assustou com a cena de me ver pelado, molhado, com shampoo na cabeça segurando o olho e gritando enrolado numa toalha que ameaçava cair e a Edna feito uma barata tonta em volta. Minha mãe, acostumada a me ver em situações escabrosas, não pensou duas vezes. Me levou para o quarto, vestiu uma roupa em mim, ( a primeira que ela viu) e me carregou para o oftalmologista. O olho ainda queimava, mas já estava doendo menos. Chegamos lá. Minha mãe disse que era emergência, mas nem precisava, afinal ali estava um sujeito vestindo a roupa mais descombinada da face da terra com a mãe segurando tão forte no braço que poderia deslocá-lo com um puxão, e ainda por cima com o cabelo molhado despenteado segurando uma gaze no olho e com a orelha cheia de espuma de sampoo. A emergência era um tanto quanto óbvia, embora eu reconheça que o quadro estava mais para emergência psiquiátrica. A doutora já estava -coitada – na porta para ir almoçar. Ela ficou puta. Voltou lá pra dentro comigo. Mandou que eu sentasse na cadeira com aquela sutileza e delicadeza de um torturador do DOPS, pegou umas coisas que eu não vi o que era e começou a examinar meu olho. A minha mãe do lado, segurando a minha mão, certa de que eu iria desmaiar. ( acontece que desde o dia em que eu resolvi personificar o “Homem Pássaro” e cortei a cabeça, indo parar na emergência e fui violentamente contido por seis médicos, nunca mais consegui me sentir bem em hospitais.) Ela mandou que eu abrisse o olho. Mas o problema é que em função do estresse da situação e o fator “K” (K-GAÇO) eu não abria aquele olho nem a pau! A médica, que já estava meio frustrada de não poder ir almoçar, começou a ficar mais… digamos, estressada? Não, não. Ela ficou foi puta pra caralho mesmo. Eu só lembro ela virar pra mim: - Ah, não vai abrir o olho não é? E então eu realizei que estava prestes a adentrar pujantemente no fator “F”. Ela abriu meu olho com uma coisa igual a um alicate. Algo parecido com um fórceps de metal e sem anestesia, sem avisar, sem pedir e nem ao menos cantar uma musiquinha, ela pegou uma puta duma pinça enorme e enfiou no meu olho! Putaquipariu! Senti a dor toda novamente. Ela começou a futicar no meu olho. A cena era bem horrível. Posso calcular pelo grau de aperto que a minha mãe dá na minha mão. Ao longo de mil e uma merdas, eu aprendi a calcular o grau do nivel “F” que estou passando pelo tanto que a minha mãe aperta a minha mão. Num determinado momento em diante eu não estava mais no consultório escuro da olftalmologista do Dops. Eu estava num lugar bonito, como aquele morrinho verdejante do papel de parede do Windows Xp. Os pássaros cantavam e as nuvens passavam no céu. E eu estava feliz. Eu acho que a merda era tamanha que eu saí do corpo. Não sei se estar em coma é ir para este lugar ou não. Não sei se imaginei este lugar para compensar a situação ESCROTA que estava passando ali. Mas o fato é que o mecanismo de fuga funciona como o último fusível cerebral para momentos de aperto. Convenhamos que era parecido com ir ao dentista. Só que ela estava obturando o meu olho! Quando dei por mim, ela estava fazendo um curativo no olho e me receitou uns colírios cicatrizantes. Aquela merda doeu por uma semana e por quase um mês foi como ter um cisco permanente na vista. Depois que o olho começou a melhorar é que nós conseguimos efetuar uma perícia no chuveiro. O calor dos banhos ultra-quentes provocou o derretimento dos fios. O derretimento foi lentamente subindo pelos fios até chegar num ponto em que os fios se encostavam. O plástico dos fios derreteu e eles se encontraram bem naquele lugar onde tem uma pecinha que parece um pedaço de lego. Esta coisa preta derreteu como chocolate. E na hora que estourou, um pequeno pedaço incandescente desse cremoso plástico, atingiu meu olho. A partir esse dia, só tomo banho frio MUHAHAHA